terça-feira, 22 de dezembro de 2009

O marxismo poético e divino
Nada contra a poesia, é minha primeira ressalva. Sei das emoções - ao passo que somos prosa, somos poesia. Nada contra o marxismo, é minha segunda ressalva. Sei do perfeito mundo coletivo e de como seria bom nos vermos compartilhando da mesma riqueza dos nossos amigos suíços.
O que sou contra é a efervescência de uma ideologia que a qualquer custo propaga idéias equivocadas com poesia e divindade, correndo o risco de cair no terreno da religião e de promover seguidores donos da verdade revelada sob o slogan: Meu dogma, minha vida.
Não dá para pagar de ideologia boazinha que não tem nada a ver com o massacre promovido pelo antigo bloco socialista. Cautela ao berrar que a luta de classes é o motor da história e que não podemos estar em outra época, pois o proletariado ainda não subiu ao poder. Analisem quando cantam louvores a Marx, o grande. Intelectual, universal, social, austero - aquele que chamou Hegel de cachorro morto. Cuidado quando vendem o divino marxista e a todo custo, sem ao menos saber o que estão dizendo, demonizando o sistema capitalista como única causa das desgraças humanas. E assim é a ordem: Tudo é o capital, esqueça o sujeito natural – se o homem mata, culpa do capital.
A crítica é contra esse conjunto que reforça a ideologia marxista e faz do marxismo um capítulo retrô, piegas e sentimental. Reforços gloriosos, inquisidores, dogmáticos. O divino poético marxista. É assim que chamo, pois em nada vejo diferença com essas igrejas pentecostais que vejo por aí. A comunidade marxiana é sem dúvida poética e divina. Glórias sejam dadas ao senhor Marx, aquele que mata Deus pra se tornar o próprio. É divino!
Amores e utopias sejam poetizadas: estamos diante do único sistema que tudo pode, tudo crê, tudo suporta. É poético!
Os discursos são os melhores e entre o poético e o divino surgem filósofos, sociólogos, professores e outros sujeitos que diante de platéias calorosas lançam a ideologia que rapidamente começa a ser inserida nos rebeldes sem causa. O fervor começa em qualquer lugar: sala, auditório, corredores da universidade - o sujeito que proclama em nada se diferencia do pastor que grita diante do altar pra persuadir o público depressivo.
Palavras de ordem são dadas e frases viram versículos e poemas sem o menor problema de cair no exagero. A vontade que a revolução seja feita - e a mão armada - é a mesma do idiota do Bush querendo “dominar” o Iraque. Mas o monstro mesmo é o Bush, aliás, o capitalismo que o faz ser um garoto malvado.
Entre a poesia e o divino, a cegueira e as conveniências, a invasão é feita sem pedir licença paciente e ideológica a qualquer pessoa. Embebem discursos, matérias, a filosofia, revistas e a mente dos revolucionários que vagam pelos corredores das universidades tão pacifistas quanto Gandhi. Tão embriagados quanto Baudelaire. Tão vazios de vontade e cheios das palavras dos outros quanto à mulher melancia.

Um comentário:

  1. "Tão vazios de vontade e cheios das palavras dos outros quanto à mulher melancia. "

    Vc é ótima! hahahahahahahaha
    E sim, concordo plenamente que o marxismo, assim como a religião, é o 'ópio do povo'.
    õ/

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